Na aula de Psicologia e Comunicação Social, foi proposto o desenvolvimento de uma peça publicitário e um texto sobre os assuntos abordados e discutidos na aula.
Autores: Gabriela Leirinha e Luiza Victoria
No livro “Psicologia Social do Racismo: Estudos sobre branquitude e branqueamento no Brasil”, as autoras pretendem instigar o leitor a pensar e refletir sobre “os efeitos psicológicos provocados pelo racismo na sociedade brasileira” (2016, pp. 12). No prefácio, é mencionado que todas as áreas podem contribuir para o entendimento do racismo, trazendo um foco para a atuação da psicologia nesse assunto, uma vez que ela nos possibilita analisar a “estrutura psíquica tanto dos indivíduos vítimas como dos discriminadores” (2016, pp. 11). Trazendo para a análise dos discriminadores, o livro introduz a complexidade do preconceito racial ao compará-lo com um iceberg, no qual a ponta dele, sua parte visível, corresponde às manifestações comportamentais de práticas discriminatórias, as quais são evidentes e claramente criminosas. Já “à parte submersa do iceberg correspondem, metaforicamente, os preconceitos não manifestos, presentes invisivelmente na cabeça dos indivíduos” (2016, pp. 11). Assim, a parte submersa seria uma representação do racismo estrutural, ou seja, a “naturalização de ações, hábitos, situações, falas e pensamentos que já fazem parte da vida cotidiana do povo brasileiro, e que promovem, direta ou indiretamente, a segregação ou o preconceito racial” .
O racismo estrutural é uma problemática bastante presente na realidade brasileira, cuja origem data desde os tempos coloniais, com a vinda de pretos para serem escravizados. A chegada deles em uma sociedade racista e que acreditava na supremacia branca resultou no que o livro chama de “racismo à brasileira”, o qual uma de suas peculiaridades foi a criação de uma missão política na qual foi imposta à miscigenação o dever de branquear a população, a fim de construir uma identidade nacional mais ariana. Essa finalidade era baseada no ideal racista de que os brancos são seres mais racionais e civilizados. Tal ideal foi tão disseminado naquela época que se tornou uma verdade enraizada na mente da população, trazendo consequências irreparáveis que contribuíram na formação do racismo estrutural, como citado na página 13 do livro:
Mas o que nesse pensamento mais interessa às ciências do homem, a psicologia social incluída, são as atitudes e os comportamentos sociais desenvolvidos, cuja interiorização deixa marcas invisíveis no imaginário e nas representações coletivas, marcas essas que interferem nos processos de identificação individual e de construção da identidade coletiva.
Essas marcas invisíveis continuam presentes no imaginário da sociedade atual como uma herança das práticas que foram tão repetidas antigamente. Ainda nos dias de hoje é possível enxergar pequenas situações em que o racismo estrutural provocou comportamentos discriminatórios que, quando somados, mostram a verdadeira desigualdade racial em que vivemos. Por exemplo, cabe mencionar o caso recente que aconteceu no dia 18 de dezembro de 2021, no Maranhão, em que um jovem preto foi espancado por um casal branco na frente de sua própria casa após ser falsamente acusado de estar tentando roubar um carro, que na verdade pertencia a ele. Esse acontecimento demonstra como o racismo estrutural é tão forte e enraizado que, ao ver a cor de pele do rapaz, os agressores deduziram que ele era ladrão, sem ao menos hesitar, como se fosse um pensamento automático.
Casos como esse ocorrido no Maranhão escancaram a importância de incentivar o fim dessas ações fundamentadas em preconceitos velados. Tendo isso em mente, nós fizemos duas peças publicitárias com o intuito de fazer as pessoas questionarem pensamentos, atitudes e falas racistas que muitas manifestam no dia a dia. Durante o processo de criação, a metáfora do iceberg citada no início do livro nos orientou a refletir sobre o conceito do racismo estrutural como uma problemática gigante mas pouco comentada, que permanece invisível e submersa. A partir dessa ideia, fizemos um brainstorm e relacionamos o iceberg a uma raiz de árvore, e então, usando-se da ambiguidade da palavra raiz com o conceito de um racismo enraizado, tivemos a ideia de representar, visualmente, uma pessoa feita de raízes cuspindo falas preconceituosas fundamentadas em uma alienação da origem dessas frases.
Em virtude dos argumentos apresentados, é importante mencionar as consequências na estrutura psíquica dos oprimidos pelos efeitos do racismo estrutural. Como, por exemplo, a necessidade que os negros coloniais sentiram de terem que se miscigenar com os brancos, em uma tentativa de diluir seus traços físicos e, consequentemente, serem mais respeitados e humanizados como os brancos. Isto ocorre, pois a repetição das práticas discriminatórias fazem com que os negros tenham uma visão do branco “como modelo universal de humanidade, alvo da inveja e do desejo dos outros grupos raciais não brancos” (2016, p.28), como apontado por Maria Aparecida Bento. Então, torna-se evidente como é afetada a identidade cultural e social, o sentimento de pertencimento ao seu grupo, e a própria autoestima do povo negro. Afinal, como eles vão gostar de sua estética quando é empurrado “goela abaixo” um padrão branco de traços finos? Assim, o uso de senso crítico e o questionamento dos pensamentos enraizados tornam-se armas a serem usadas no combate ao racismo, principalmente o estrutural e suas consequências.
Produzido por Gabriela Leirinha e Luiza Victoria
Peça desenvolvida por Gabriela Leirinha, Luiza Victoria e Leonardo Machado, no Adobe Photoshop e PicsArts,
PROJETO PARA FINS ACADÊMICOS